Goste você do Fiat Uno ou não, é impossível negar que ele é um dos carros mais vendidos e conhecidos do Brasil. E nem é preciso ser um admirador do Uno para saber que ele foi vendido primeiro na Itália, onde foi lançado em 1983, e depois no Brasil, onde chegou no ano seguinte. O que você talvez não saiba é que, anos depois, o Fiat Uno fabricado no Brasil foi vendido na Itália – muito antes que o sedã Siena e a picape Strada se espalhassem pelo mundo.
O Fiat Uno italiano é fundamentalmente diferente do brasileiro. Nos exemplares da década de 1980 isto fica evidente ao olhar, por exemplo, o capô: no Fiat Uno brasileiro, a peça é envolvente, cobrindo até o topo dos para-lamas, enquanto no italiano, não.
Isto você provavelmente já tinha sacado. O capô do Uno brasileiro é assim porque, na maioria das versões, o estepe vai guardado dentro do cofre. Isto só aconteceu porque a plataforma dos dois carros é diferente: enquanto o italiano estreou uma nova plataforma (a Tipo Uno), com McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira, o Uno brasileiro usava uma modificação da plataforma do 147, que usava um sistema McPherson com feixe transversal de molas semi-elípticas, que era mais robusto, porém não deixava espaço para a roda sobressalente sob o porta-malas. Era uma herança do Fiat 147, que a Fiat justificou dizendo que o sistema italiano não duraria nem 5.000 km em solo brasileiro.
Mas tem mais: a partir de 1989, o Fiat Uno produzido na Itália passou por uma reestilizaçãp profunda, que deu a ele uma dianteira mais baixa, parecida com a do Fiat Tempra, e uma traseira remodelada, com lanternas menores e mais lisas. Olha aí:
Nunca tivemos esta versão do Uno no Brasil. Porém mais ou menos nesta época os italianos começaram receber o nosso Uno na península em forma de bota.
Era uma versão básica, mais barata do que as versões fabricadas na Itália, e tinha o visual clássico do Uno, com a “frente alta” e o capô envolvente. Seu nome era “Uno CS”, e o motor era um quatro-cilindros com comando no cabeçote e 1,1 litro de deslocamento (1.116 cm³) que já era usado no Fiat 128 desde 1969, e cuja arquitetura deu origem ao conhecido motor Sevel. Entregava exatos 60 cv a 5.500 rpm e 9,1 mkgf de torque a 3.000 rpm.
As laterais eram decoradas por uma fina faixa adesiva que percorria todo o perímetro do carro e havia calotas nas rodas de 13 polegadas. Estas mesmas faixas foram vistas no Uno CS Export, versão lançada no Brasil em 1990 para comemorar mais 1.000.000 de exemplares dos Fiat brasileiros exportados.
Na época, a Fiat aproveitou a deixa da Copa do Mundo de 1990, na Itália, para fazer uma campanha com Sebastião Lazaroni, o então técnico da seleção brasileira de futebol. No comercial, um policial italiano pede os documentos do brasileiro, e não acredita que ele seja o técnico da Seleção, nem que o Fiat Uno que ele dirige também é fabricado no Brasil. É um clássico da publicidade:
O Uno CS Export foi anunciado nesta mesma campanha e, desta vez, o guarda italiano está aqui no Brasil, confirmando a seu superior que se fabricava o carro por aqui.
Na Itália, o Uno fabricado no Brasil ficou conhecido como brasiliana – lembrando que os italianos, sempre passionais, se referem aos automóveis no genero feminino com muito mais frequência que a gente. E “la Uno brasiliana” é visto como exótico pelos entusiastas do modelo por lá.
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