segunda-feira, 24 de julho de 2017

Quando o Mustang quase virou um cupê japonês de tração dianteira

A sexta geração, lançada em 2015, foi elogiada mundialmente por suas qualidades dinâmicas e, por mais que o visual possa ser considerado “moderno demais para o Mustang”, é fato que o pony car vem sendo bem sucedido nas vendas e dando origem a alguns projetos bem interessantes – e a Ford ainda teve a ousadia de dar ao atual Mustang um arranjo de suspensão dianteira independente e um motor quatro-cilindros turbo para, aos poucos, aposentar o V6.

No fundo, porém, o Ford Mustang continua sendo um bom e velho cupê esportivo americano, com motor V8 na dianteira, tração traseira, visual agressivo e ótima relação custo/potência. O Mustang se reinventou, mas ainda é um Mustang. Você consegue imaginar a Ford sem ele?

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Pois foi quase isto o que aconteceu no início dos anos 1980, quando a Ford decidiu substituir o Mustang de terceira geração – a mesma do Mustang com motor de Viper que mostramos outro dia. Àquela altura, a Ford já havia transformado o Mustang Fox em um carro mais interessante, dando um pouco mais de potência ao motor V8 de cinco litros. Mas havia um enorme problema: a crise do petróleo de 1973 já havia acabado, mas os preços dos combustíveis ainda eram mais altos do que na era de ouro dos muscle cars. A gigante de Detroit chegou à conclusão de que um carro como o Mustang não faria mais sentido – ao menos que o carro mudasse drasticamente.

Talvez a Ford ainda não tivesse noção da importância do nome e da marca Mustang, e de tudo o que ele representava. Nos anos 1960, ele foi um dos grandes responsáveis pelo surgimento dos muscle cars e pony cars, tornou-se um herói das corridas de arrancada e mostrou que podia ser um bom carro de corrida com a ajuda de Carroll Shelby. Os fãs era milhões, todos apaixonados pelo Mustang das antigas. Ou talvez eles estivessem apenas acompanhando as vendas, que estavam caindo ano após ano. Paixão não paga as contas, afinal!

A Ford, então, lançou mão de uma fiel parceira: a Mazda. De 1975 a 2015 as duas companhias tinham uma relação muito próxima: em 1975, a Ford comprou 7% da Mazda, participação que aumentou ao longo dos anos até chegar a 33,3% em 1996. As empresas compartilhavam diversos recursos técnicos – por exemplo, os motores Zetec, Duratec e Sigma da Ford, que foram projetados com uma boa ajuda da fabricante japonesa; ou o Mazda 121 vendido na Ásia nos anos 1990, que era um Ford Fiesta rebatizado.

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Naquela época, a Mazda vinha fazendo relativo sucesso nos EUA com o cupê Mazda MX-6, cupê de tração dianteira com motor de quatro cilindros e apelo esportivo que custava pouco e não decepcionava em dinâmica. Para a Ford, era exatamente assim que o Mustang precisava ser naquele momento. Então, o novo Mustang seria baseado no MX-6 – simplesmente uma nova carroceria seria desenhada em volta da plataforma GD da Mazda, e o novo Mustang aproveitaria cerca de 60% de seus componentes.

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O trabalho começou no fim de 1982, com o designer Toshi Saito encarregado de criar as linhas do novo Mustang. Foi um trabalho que durou quase um ano e, em setembro de 1983, a equipe da Mazda tinha um protótipo em escala criado a partir de várias ideias selecionadas pela cúpula da Ford. No entanto, de última hora, os americanos exigiram algumas mudanças no visual do carro, especialmente na dianteira, pois havia ficado “japonês demais”. A revisão estética adicionou mais dois meses ao prazo, e o desenho final foi entregue à Ford em dezembro de 1983.

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Tudo estava pronto para que o novo Mustang começasse a ser produzido antes de 1985. Contudo, algo nada surpreendente aconteceu: os admiradores do pony car se manifestaram com cartas para a Ford, criticando a manobra. Coincidentemente, à medida que a década de 1980 avançava, o preço da gasolina começava a cair – finalmente os sintomas da crise do petróleo de 1973 estavam se dissipando – e as vendas do Mustang, a aumentar novamente. Em resposta às manifestações, a Ford deu início ao desenvolvimento de uma nova reestilização para o Mustang, que foi concretizada em 1987.

Foi o bastante para dar um sopro de vida ao pony car, cuja evolução culminou no primeiro de todos os Mustang SVT Cobra R. Primeiro modelo da recém-inaugurada Special Vehicle Team, o Cobra R tinha um V8 Windsor de cinco litros e 238 cv, reforços estruturais e perdia equipamentos para chegar aos 1.417 kg – 40 kg a menos. Apenas 107 exemplares do Mustang SVT Cobra R foram fabricados em 1993. Em 1994, o Mustang foi totalmente reformulado para sua quarta geração. O resto, como dizem, é história.

E o novo Mustang? O projeto já estava avançado demais para ser cancelado e, então, depois que a poeira baixou, o carro foi lançado como Ford Probe.

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O nome vinha de uma série de cinco carros conceituais apresentados entre 1979 e 1985 – Ford Probe I, II, III, IV e V, assim em algarismos romanos mesmo. Criados pelo estúdio italiano Ghia, os conceitos tinham a proposta de unir elegância e modernidade. Eram carros diferentes, mas tinham características em comum, como a traseira Kamm (com um corte abrupto e vertical) e rodas traseiras cobertas.

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O redesign da dianteira não adiantou muito, na verdade. O Probe ainda tinha cara de carro japonês… até  porque os faróis eram os mesmos do Mazda RX-7 FC, penúltima geração do clássico esportivo com motor Wankel. O painel de instrumentos também era emprestado da Mazda, e podia ser digital na versão “de luxo” LX.

O motor era um quatro-cilindros de 2,2 litros que podia ser naturalmente aspirado ou turbinado, com 110 cv e 145 cv, respectivamente; ou um V6 naturalmente aspirado de três litros e 140 cv. Passado o susto com a mudança que acabou não acontecendo no Mustang, o Probe foi bem aceito pelo público e até ganhou uma segunda geração, que foi produzida entre 1993 e 1997 e era ainda mais parecida com um esportivo japonês.

Ironicamente, o Probe foi fabricado na unidade de Detroit onde o Mustang é feito desde 2005.

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